

MINHA HISTÓRIA SÃO
AS MINHAS CONEXÕES
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08.02.2021


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Havia muito tempo que não fotografava, por falta de vontade e por frustrações. As fotos que agora compõe este projeto, foram o meu reencontro com a fotografia.

"Neste ano muito difícil que foi 2020, a fotografia criou em mim a esperança em meio ao caos"


Lembro do dia em que comecei a fotografar: Amanda, minha namorada, sugeriu que eu caminhasse pela cidade, afinal, ela percebeu o quanto estávamos isoladas e por quanto tempo.
Eu sou uma pessoa das ruas, e ser obrigada, drasticamente, à ficar em casa, foi um contraste gigantesco.
Durante a caminhada, me ocorreu a ideia de fotografar as poças d’água que se formaram pelas chuvas. Me senti tão bem e tão viva! Voltei para casa com uma sensação muito boa. A partir de então, decidi que todas as vezes que eu saísse de casa, para qualquer coisa, eu iria fotografar.


Eu me inspirei nas obras do fotógrafo italiano Antonello Veneri, que possui um trabalho muito significativo no Brasil - fotografando trabalhadores na pandemia - e, timidamente, comecei a fazer alguns registros pela cidade.
Ao abordar as pessoas sempre tenho o cuidado de conversar com elas, pedir autorização para fazer os registros e pedir pelo contato para encaminhar as fotos posteriormente. Até mesmo nas fotos “roubadas”, eu falo com a pessoa depois.
Para mim, isso é muito importante.

"Eu me pergunto por que vivi tantos anos sem fotografar, pois a fotografia pulsa em mim."

A minha cidade está localizada no Recôncavo da Bahia. Ela é uma região que recebe bastante turista com muita frequência, entre eles fotógrafos estrangeiros - lê-se brancos - que chegam aqui, não pedem licença, fotografam as pessoas e as festas, e ninguém sabe onde essa foto vai ou foi parar - e em que contexto foi usada. Eu me incomodo muito com isso.
Para alguns eu revelei as fotografias e entreguei, outras pessoas eu já conhecia e outras tantas conheci no processo. Eu amo o contato que a fotografia gera entre as pessoas. É o que faz ela ter valor para mim. Então tenho um cuidado muito grande com as pessoas que eu fotografo, até porque posso me bater com ela na fila da padaria.




Queria que as pessoas enxergassem o meu trabalho, então ativei minhas redes sociais para publicar meu material. As fotos geraram uma proporção que foi a de conscientizar as pessoas de minha cidade a usarem máscara e reforçar o distanciamento social.
Toda vez em que vou fotografar, me surpreendo. E isso é muito bom. Por fotografar a rua, a surpresa é um elemento importante. Meu olhar está o tempo todo em alerta, observando tudo. Eu digo que tenho um HD mental de fotografias que foram feitas sem o celular ou a câmera. O que faz a fotografia ser fascinante é se surpreender toda vez que fazemos um registro.


Eu defendo que, independente do equipamento, o mais importante na fotografia é o olhar.
Comecei a fotografar muito cedo, com uma câmera semiprofissional, que era de meu avô. Depois ganhei uma dos meus tios, mas sempre fotografei com meu celular. O celular me possibilitava, e ainda possibilita, fotografar na rua com maior facilidade. Eu enxergo algo e rapidamente tiro o celular do bolso e registro.
Apesar dessa facilidade, existe ainda muita polêmica com relação a fotografia mobile. Muitas pessoas falam com certa discriminação, outras percebem a potencialidade desses aparelhos no âmbito fotográfico.
Hoje, ao retornar para fotografia, volto com essa mesma ferramenta. Eu quero muito ter uma máquina profissional, sei que isso me trará outras possiblidades, mas nunca vou deixar de lado o celular.

A pandemia não foi - e nem está sendo - fácil para as pessoas. Ela deu uma desajustada em todos. Me reencontrar com a fotografia me colocou, de alguma forma, nos trilhos novamente.
Eu moro numa cidade pequena, chamada São Félix, ela foi bastante impactada, juntamente com outras cidades ao redor, como Cachoeira e Feira de Santana - que são as cidades que mais fotografei nesse período. Muitas pessoas perderam o emprego e ficaram desesperadas por não saberem o que de fato estava prestes a acontecer ou o que iriam fazer. Uma insegurança e preocupação coletiva. E com as declarações do presidente isso só fortalecia esses sentimentos.


"Deixamos de conviver em coletividade e de ter um contato maior com as pessoas... e isso dói muito.
Mas o mais importante é que todos tiveram, de alguma forma ou de outra, a oportunidade de ficar por dentro da tecnologia"


