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12.04.2021

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Comecei a observar a “gira de crianças” em seus contextos cotidianos no ano de 2014. O trânsito itinerário desta narrativa busca identificar como são construídas suas identidades no fluxo da sua formação à partir de um olhar de dentro para fora.

 

Procuro deslocar, com essas imagens, a centralidade dos olhares marginalizados para com as crianças negras, que geralmente são delineados pelo racismo, que minimizam suas existências à negação - o auto ódio - promovendo uma autoestima negativa à sua própria imagem.

 

"Ere.jpg" é uma narrativa fotográfica de crianças negras nos contextos do Recôncavo Baiano, nas cidades de Santo Amaro e São Francisco do Conde. Leva esse nome a partir de uma irmã chamada Jessiekê de Lundu. Estava com ela na casa de uns amigos próximos, na época não nos conhecíamos, conversando sobre nossos processos criativos mostrei algumas imagens à ela que espontaneamente comentou "Ere, suas imagens são lindas. Por que você não chama Ere.jpg?" nesse período só tinha apenas 7 imagens dessas crianças e segundo a numerologia da ronda de Ere numa perspectiva de terreiro, são 7 crianças convocadas  para comer o caruru no ritual ancestral que acontece todo mês de setembro aqui na Bahia. Por ter esse sentido, decidi a partir daí que daria o nome, a identidade e a continuidade do acervo em homenagem aos Eres. 

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O desenvolvimento desta narrativa está diretamente ligado com a minha própria experiência de vida, na construção de uma identidade negra positiva.

Não me recordo, em uma infância parecida com a destas crianças, de nenhuma imagem que enalteceu a representação de sujeitos negros. A invisibilidade era, e infelizmente, ainda é, explícita, as cenas representadas de afrodescendentes são sempre carregadas de estereótipos, naturalizando a discriminação, o racismo e a indiferença. 

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Aqui construo uma realidade longe do senso comum que são estigmatizados pelas violências veiculadas nos meios de comunicação permeados pelo racismo. Aqui o bem estar/ bem viver são pontos cruciais de representatividades. Os retratos aqui mostram Clara, Maria, João, Henrique, Lucas, Bernardo e tantas outras crianças em suas vidas cotidianas, como protagonistas de fazeres e saberes, possibilitando a valorização da sua ancestralidade, território e identidades.

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A maioria dessas crianças são filhos, primos, sobrinhos de um amigo\amiga conhecida, quando realizava as visitas nos bairros vizinhos, sempre encontrava eles em grupos desenvolvendo alguma brincadeira entre si. Me aproximava e observava antes de pedir para participar das suas atividades, a ideia era sentir como nesses contextos as brincadeiras eram desenvolvidas.

 

Para que essa narrativa fosse desenvolvida, eu conversava e adentrava nesse universo lúdico para depois realizar as fotografias. Fazia também visitas de aproximação para ensinar fotografia, onde ensinava sobre enquadramento, luz e composição além de pedir para que se registrassem ao longo do ensinamento. Acredito que o uso da câmera nesses encontros foi uma maneira de trocar confiança, pois sempre que deixava eles utilizarem meu equipamento, o contato aumentava. As crianças ficavam muito felizes em segurar uma câmera, e como ela sempre estava na mão de alguma delas, passei a registrar também com celular.

Era uma troca, pois eles conseguiam captar imagens entre eles e nesse percurso eu realizava o retrato deles. Na hora de mostrar o resultado fazia questão de conversar sobre nossas características e imagens no sentido de positivar nossas identidades. 

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Através dessa narrativa consigo trazer uma imagem do negro que é positiva, como nos ensina o Lázaro Roberto, fotógrafo e fundador do acervo ZumviEsse acervo ao longo de 6 anos me fez pensar sobre o processo de autoimagem, não me recordo na minha infância em ter alguma referência negra.

 

Além dos meus familiares que eram meus semelhantes, passei a maior parte da minha infância e adolescência na casa de meus avôs maternos. Na parede da sala tinha imagem da Ana Paulo Arósio, nessa época ela era atriz principal da novela "Terra Nostra". Quando meus familiares comentavam sobre beleza, remetiam a imagem dela.

 

Sentia uma rejeição sobre nossos fenótipos quando no quintal de casa tod@s comentavam a respeito da atriz, sempre zoando uns aos outros e reforçando estereótipos que remetiam a nossa autoimagem.

 

Sou grata a ancestralidade por trilhar essa encruzilhada no sentido de valorizar e mostrar outras narrativas que fujam da centralidade negativa de crianças negras em seus contextos comuns, foi através dessas crianças que conseguir ressignificar minha infância e adolescência no sentido de entender as violências geradas pelo racismo e assim, me curar de dentro para fora.  

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As práticas e símbolos expressos pelas crianças, no recôncavo baiano, me trouxeram trocas intensas, em diversas zonas, revelando, a partir do olhar,

as sutilezas da espontaneidade do brincar.

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Essa sutileza nos apresentam as crianças negras a partir delas mesmas, longe dos estigmas sociais que frequentemente levam à marginalização e invisibilidade.

O olhar sobre as crianças me traz uma memória afetiva, me aproxima dos meus iguais, me possibilita combater o racismo e tantas violências geradas pelo colonialismo em nossa sociedade. Foi através desse movimento de observação que o intercâmbio de saberes, registros e difusão da cultura infantil surgiu.

Que os Eres tomem conta de nossas crianças e nos proporcione muita alegria, doçura, longevidade e sabedoria. 

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Saravá Ibêjis! Omi Beijada!

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