

POVO SEM MEDO
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24.05.2021


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Quando decidi fotografar a Ocupação Povo Sem Medo, tomei a decisão de que não gostaria de retomar a documentação sobre a luta por moradia de forma direta. Acreditava que dessa forma eu excluiria o convívio e as histórias que compartilhamos ao longo do processo fotográfico, tornando o relato distante.
Decidi que a melhor maneira de contar a história da ocupação seria remontando aquilo que era a base de seu surgimento e a sua motivação, a união coletiva. Foi dela, percebendo o outro em situação igual, que levou as 80 famílias que hoje vivem nos escombros da antiga fábrica Bergitex, localizada no bairro da Pavuna no Rio de Janeiro, a ocupar o espaço e transformá-lo em seu lar.





Foi em 2019 que conheci o Dino - ou Dino Arte, como assina suas obras. Artista da ocupação, recolhe obras, fotos, quadros que encontra por aí. Ele decora sua casa, tornando-a em uma pequena galeria, onde pode analisá-las com mais calma. Além de pintar em diversas casas, produz quadros e desenhos para dar de presente às famílias da ocupação.





Conheci também a Andreia, que fica responsável por organizar as reuniões onde são ouvidas as reclamações e necessidades de cada um dos moradores, além de um debate coletivo para manutenção e reestruturação da ocupação.

O local escolhido para se transformar em moradia pela comunidade Povo Sem Medo foi uma fábrica desativada há aproximadamente 30 anos e endividada em 5 milhões com o Estado. Sua proximidade com o antigo bairro que a maioria das famílias moravam, fez com que a escolha de ocuparem a falida Bergitex fosse aceita pelos moradores.
As famílias são em sua maioria de trabalhadores vindo da Gringolandia, que estavam com muita dificuldade de pagar o aluguel - ou sem condições nenhuma - e necessitavam de moradia. Caso necessite ocupar um local acredito que a melhor forma seria entrar em contato com lideranças de movimentos. Ocupar um espaço é um ato político que requer uma estratégia e organização na mobilização.





Assim, cada morador com seu papel na organização e no convívio da ocupação, compõe um painel de histórias, os quais fortificam e montam uma base, um espírito de coletividade. É ele que move e une cada um. Ainda que com suas diferenças, a percepção do outro leva a uma ação coletiva contra um Estado que pouco se importa com a questão de moradia, transformando a união que inicialmente se dá no âmbito social e torna-se política.

